Autor: Mizael de Souza Xavier
Aluno do curso CST em Gestão de Recursos Humanos
Universidade Potiguar – UnP, Natal, Rio Grande do Norte
Dever-se-ia entender a
organização do século XXI como uma organização solidária. Esta solidariedade se
demonstra no cuidado que ela deve ter consigo mesma, com os seus colaboradores
e com o mundo que a cerca. Tudo aponta para a necessidade do envolvimento da
organização nas questões sociais, quaisquer que elas sejam, com o intuito de
promover transformações profundas no ser humano e na sociedade em geral. Esta
não é uma função meramente social, mas empreendedora, capaz de gerar lucro para
a empresa e para toda a sociedade, o que comumente se denomina “lucro social”.
Uma empresa está inserida num
contexto social e jamais poderá negar a realidade de que aquilo que acontece a
sua volta influencia diretamente no seu sucesso ou fracasso. Não apenas o seu
microambiente deve ser analisado (fornecedores, clientes, concorrentes,
agências reguladoras), mas também o macroambiente, cujos fatores (político
legal, demográficos, naturais, sociais, econômicos e tecnológicos) exercem
grande influência sobre os negócios. Negligenciar a preocupação com qualquer um
deles pode significar a derrocada de qualquer empreendimento. Se as mudanças
tecnológicas não forem levadas em conta, por exemplo, uma empresa pode ficar
ultrapassada. É o caso daquelas empresas arcaicas que resistem à revolução da
Internet.
Todavia, muito mais que um
ambiente tecnológico, o macroambiente é formado por fatores que envolvem direta
e especialmente pessoas: ambiente político, densidade demográfica, distribuição
de renda, situação social, apenas para citar alguns. Ao olhar para si mesma,
uma organização deve se fazer duas perguntas. Primeira: O que as pessoas têm a
ver com a organização e o que elas tem feito por ela? Segunda, e muito mais
importante: O que a organização tem a ver com as pessoas e o que tenho feito
por elas? Entender o “ambiente humano” como fator chave no sucesso empresarial
é um salto de qualidade no entendimento organizacional.
Mas de que pessoas se estão
falando? Nos consumidores? Então os esforços organizacionais seriam
direcionados a melhorias nos produtos, serviços e atendimentos. Entretanto,
quando se pensa num novo modelo de desenvolvimento em que as organizações atuam
como empreendedoras sociais, o que se tem em vista é a transformação da
sociedade como um todo, mesmo que a maior parte desse todo não faça parte da
demanda dos produtos e serviços. Que lucro tirar de pessoas que não formam a
demanda da organização? A explicação pode ser bastante simples e ao mesmo tempo
revolucionária, e é a isso que este estudo se propõe: transformar organizações
cuja ênfase está no lucro financeiro em organizações com uma ênfase no lucro
social, entendendo que nesta forma de lucro a maior parte dos envolvidos sai
ganhando.
Para uma comunidade tornar-se
consumidora habitual, isto é, que constantemente consome produtos e serviços,
gerando lucro para as empresas, impostos e benefícios para a própria
comunidade, com o aumento do número de trabalhadores empregados e da qualidade
de vida, alguns fatores devem ser observados:
·
investimento em educação de qualidade, com a qualificação dos
professores e remuneração justa e compatível;
·
investimentos em saúde pública que atenda a população e promova o
bem-estar das famílias e dos trabalhadores;
·
criação de frentes de trabalho e oportunidades de emprego;
·
qualificação da mão de obra, com cursos profissionalizantes;
·
criação
de cooperativas;
·
combate à criminalidade e ao uso de drogas por meio da educação
preventiva e da repressão quando for o caso;
·
conscientização
política e ecológica;
·
criação de creches para filhos de mulheres trabalhadoras;
·
criação de áreas verdes e de lazer que atendam à comunidade;
·
valorização e desenvolvimento dos movimentos culturais locais, com
incentivo à pratica artística;
·
humanização nos serviços públicos e privados;
·
incentivo
à prática esportiva;
·
empoderamento do cidadão por meio de um empreendedorismo social
transformador, que é o assunto deste estudo.
O que tudo isso tem a ver com a
empresa e de que forma ela poderá se beneficiar dessas ações empreendedoras? A
lógica do lucro responde a esta questão. É necessário haver demanda para que
haja lucro. Se a demanda não existe, cria-se. E de onde ela vem? Da própria
comunidade. Criando cidadãos felizes e com poder de compra, as empresas
beneficiam a sociedade e garantem sua estabilidade e sucesso. A partir do
momento que uma comunidade se transforma socialmente, com geração de empregos,
melhoria no seu bem-estar integral, com perspectiva de crescimento e
estabilidade financeira, aquele cidadão que antes não consumia, passará a
consumir, gerando ainda mais lucro, mais empregos, mais negociações, mais
impostos. Os benefícios do empreendedorismo social corporativo são ilimitados.
A
visão, porém, não pode estar centrada no lucro, mas nas pessoas. Não há
necessidade de criar a utopia de mundo perfeito, onde todos os cidadãos
assistidos se tornarão um dia grandes consumidores de produtos e serviços
oferecidos pela empresa, mas apenas de promover o bem estar social, não apenas
em partes, isto é, aquelas partes que servem aos interesses próprios do capitalismo.
O mundo sempre será como é, mas isto não quer dizer que as empresas devam ser
conformistas e fatalistas, deixando de lutar por justiça e igualdade e de
ajudar as pessoas nas suas necessidades. A sociedade transformada pelo
empreendedorismo social é aquela em que os indivíduos podem se sentir
completos, amados, valorizados, prestigiados e portadores de dignidade como
seres humanos e cidadãos, tendo os seus direitos garantidos e as suas
necessidades básicas supridas, podendo crescer socialmente e se autogerir. Para
isto é necessário um novo modelo de desenvolvimento, um desenvolvimento
comunitário e sustentável, que abranja a necessidade de todos e não apenas de
uma classe privilegiada. Ou como escrevem Melo Neto e Froes (2002, p. 4):
É preciso criar um novo modelo de desenvolvimento: um
desenvolvimento humano, social e sustentável. Um modelo centrado no cidadão
comum, o cidadão das ruas, que trabalha no governo, na iniciativa privada, como
profissional liberal, que vive na cidade e no campo.
Este desenvolvimento, porém, só é
possível uma vez que as pessoas se conscientizem da condição de exclusão em que
vivem e sejam estimuladas ao não conformismo. Não basta saber-se oprimido, é
preciso vontade de libertar-se. O educador Paulo Freire foi taxativo ao
afirmar: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se
libertam e comunhão”. É preciso que o primeiro passo
seja dado por aquele que está prisioneiro em uma situação de opressão, e o
primeiro passo é a vontade. Esta afirmação é verdadeira uma vez que nem todas
as pessoas desejam dar esse primeiro passo, ou por aceitar a sua situação como
imutável, ou por não sentirem-se capazes de transformá-la, ou por comodismo.
Vislumbra-se aí um vasto campo para o trabalho do Gestor de Recursos Humanos.
A
ação social da organização deve primeiramente formar cidadãos conscientes e
responsáveis, capazes de compreender a si mesmos e a sua situação de opressão.
Só assim eles poderão atuar como protagonistas da sua própria libertação, sendo
verdadeiros empreendedores sociais e multiplicadores da solidariedade. O
cidadão deve enxergar-se como sujeito da sua própria transformação. Porém, é
necessário evitar as ações paternalistas que podem até libertar o homem da
miséria, mas aprisionam-no sob outra forma de opressão: o assistencialismo
castrador e desmoralizador.
Esse
novo modelo de desenvolvimento promove mudanças profundas na sociedade, podendo
alcançar diversos níveis: sociais, políticos, educacionais, culturais e
econômicos, beneficiando o cidadão e as empresas, que obterão maiores lucros
devido à educação e ao aumento do poder aquisitivo da população. Um modelo de
desenvolvimento onde as pessoas são vistas como sua parte fundamental, tende a
gerar riquezas muito maiores que um modelo de capitalismo voraz. É uma
matemática que precisa ser melhor estudada: quanto mais prósperas as pessoas
forem, mais prósperas as empresas serão. O contrário também é verdadeiro.
Referência
bibliográfica
MELO NETO, Francisco P.; FROES, César. Empreendedorismo social: a transição para a
sociedade sustentável. Rio de
Janeiro: Qualitymark, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente!