sábado, 5 de maio de 2012

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E INCLUSÃO

Autor: Mizael de Souza Xavier

Aluno do curso CST em Gestão de Recursos Humanos

Universidade Potiguar – UnP, Natal, Rio Grande do Norte







Conforme podemos perceber ao estudarmos a história da Administração, acompanhando a sua evolução desde quando os seus primeiros estudos começaram a serem realizados, a ideia do que é uma organização, sua importância, sua função e seus objetivos, metas e métodos têm evoluído bastante. Se antes se pensava numa administração voltada para a tarefa, onde o empregado era apenas um operador de máquinas que gerava lucro ou uma mera extensão da máquina que operava, hoje ele é visto como a alma da empresa, valorizado e considerado em todos os seus aspectos humanos. Pode-se dizer que as teorias da administração acompanharam, desde sempre, a evolução do pensamento humano.

            Mas ainda é preciso ir muito além e repensar a responsabilidade social corporativa além das suas quatro paredes, além da relação entre patrão e empregado, mas uma relação mais profunda de responsabilidade social que envolva fornecedores, clientes, a concorrência, toda a sociedade e a natureza. A maneira como as empresas irão operar neste mercado novo, onde o ser humano e o planeta estão sendo cada dia mais valorizados, é que decidirá o seu sucesso ou o seu fracasso. Portanto, é preciso uma mudança fundamental para obter êxito, para crescer e se firmar no mercado, aliando a preocupação com o lucro com as demandas sociais do meio onde a empresa está inserida, e isto está muito além de um mero cumprimento da lei.

            O mundo muda de forma rápida e dramática e as empresas precisam considerar estas mudanças, buscando um equilíbrio necessário entre os ganhos monetários e os ganhos sociais, entre os lucros da empresa e os interessas da população e do ambiente. Há muito as organizações já descobriram que não podem descuidar do bem-estar dos seus cooperadores: um trabalhador satisfeito é mais produtivo e eficiente do que aquele que não encontra motivação no seu ambiente de trabalho, que não recebe incentivos nem tem perspectivas de crescimento na empresa. Quando se sente valorizado e possui um ambiente de trabalho acolhedor e estimulante, o trabalhador valoriza ainda mais o seu trabalho e o seu superior. Planos de saúde, berçários e creches para filhos de funcionários, alimentação e vale-transporte, comissões e promoções são alguns desses incentivos. Há que se estudar as teorias motivacionais e aplicá-las de maneira eficaz.

            Mas a responsabilidade social corporativa pede algo mais. Uma empresa socialmente responsável não está apenas contribuindo para a construção de um mundo melhor, mas essa responsabilidade ajuda a gerar ainda mais lucros para a própria empresa. Imaginemos que uma empresa qualquer se instale numa área com grandes problemas sociais e indivíduos de baixo poder aquisitivo, onde a grande maioria dos jovens e pais de família esteja desempregada. A partir do momento em que essa empresa investe seu capital em projetos de ação social para ajudar essa comunidade, seja com a construção de áreas de lazer, cursos gratuitos de capacitação para o mercado de trabalho, alfabetização de jovens e adultos, conscientização sobre o problema das drogas, essa comunidade se torna produtiva, com poder de compra. Responsabilidade social não é uma perda, mas um investimento em possíveis clientes.

            As empresas estão procurando respostas, maneiras para lidar com essas responsabilidades, se envolvendo com as pessoas, dando ouvido ao que elas têm a dizer. Quanto mais ouvimos, mais informações obtemos para atuar no mercado, seja com produtos ou serviços. Abrir mão dessa responsabilidade, do cuidado com as pessoas e o ambiente, além de ser um péssimo testemunho para a empresa, prejudica a responsabilidade financeira. As pessoas não são mais como antigamente, quando engoliam tudo o que se passava nas propagandas, por exemplo, e tomavam aquilo como uma verdade absoluta e irrefutável. Hoje em dia, a Internet se encarrega de espalhar informações, de não deixar mais nada às escondidas. É necessário estar em dia com a ética e com a moral, não se utilizando trabalho praticamente escravo como muitas grandes empresas fazem, nem destruindo o meio-ambiente. Fazer isso é dar um tiro no próprio pé. Os prejuízos de uma empresa que perde credibilidade no mercado são incalculáveis e podem significar a sua falência.

            A empresa para se manter hoje e atender as novas demandas sociais, deve prezar pela administração socialmente responsável, algo que se inicia dentro dela mesma, produzindo códigos de éticas e manuais de conduta que sejam praticados e pensando sobre a sua estrutura, mantendo a coerência entre a empresa, os empregados, os fornecedores, os clientes e a concorrência. As empresas sérias, que não desejam crescer sozinhas, mas em comunhão com a sociedade, são inclusivas, trabalham em conjunto e estabelecem metas a longo prazo. O lucro rápido de hoje pode significar a derrocada de amanhã. Trabalhar de maneira ética e ponderada, semeando as boas sementes da responsabilidade social certamente há de produzir frutos ainda maiores no futuro. E todos precisam de um futuro.

            Todavia, pensar em responsabilidade social deve levar em conta também aqueles que estão socialmente excluídos, promovendo uma inclusão que atenda às suas necessidades e os insira no mercado de trabalho. As Universidades, por exemplo, possuem cotas governamentais, onde 5% das vagas são destinados a pessoas de cor negra ou portadoras de necessidades especiais. É interessante notar que o modo de tratar essa segunda categoria teve uma mudança acentuada: não se fala mais em “deficientes” mentias ou físicos, como se esses indivíduos estivessem incapacitados de viver ou de assumir quaisquer responsabilidades profissionais ou educacionais. Eles possuem necessidades especiais por conta de alguma limitação natural ou adquirida, mas não são em nada deficientes.

            Inclusão significa a ação ou o efeito de incluir, de colocar para o lado de dentro aquele que estava fora, no ostracismo. O gestor de Recursos Humanos de uma empresa tem um papel fundamental nesse processo de inclusão social, podendo abrir vagas de empregos para portadores de necessidades especiais, promovendo a chance de mostrarem como podem ser tão produtivos quando aqueles trabalhadores considerados “normais”. Não existe qualquer tipo de limitação onde há talento e força de vontade, onde o preparo técnico supera o despreparo de alguma parte do corpo. As paraolimpíadas são um bom exemplo de como o ser humano pode superar as suas limitações e ultrapassar os seus limites. Para isso é preciso uma chance, uma oportunidade.

            Mas será que as empresas estão preparadas para investir na inclusão social? Felizmente, devido ao avanço na visão de responsabilidade social corporativa citado acima e o incentivo de órgãos governamentais, algumas empresas já têm aberto vagas para portadores de necessidades especiais, onde eles podem exercer uma profissão, tornando-se produtivos e aumentando a sua autoestima. Todavia, parece que a grande maioria ainda vê impedimentos para permitir que isso se dissemine com maior velocidade e alcance maiores proporções. É necessário uma mudança de mentalidade, saindo do senso comum para encarar a realidade atual, onde a inclusão social é mais que um tema do momento, mas um movimento sólido de transformação de vidas e e lucro socialmente responsável.

            O gestor de Recursos Humanos, que é aquele que lida diretamente no auxílio da contratação, na seleção e no treinamento de funcionários, mais do que todos, precisa estar atendo a esta realidade. Para isso, torna-se necessário uma compreensão global das deficiências para saber como lidar com elas e potencializá-las para o mercado de trabalho. Muitos funcionários considerados normais dentro do padrão aceito de normalidade não rendem tanto quando aqueles que possuem algum tipo de limitação. Isto é um fato, porque os indivíduos portadores de necessidades especiais que decidem enfrentar preconceitos, discriminação, descrédito, má vontade e tantos outros espinhos para ingressar no mercado de trabalho, estão sempre dispostos a dar o melhor de si, a superar todos os obstáculos para mostrar o quanto são capazes e o quando podem contribuir igual ou melhor que qualquer outra pessoa. Enquanto pessoas “perfeitas” encontram barreiras nos mínimos problemas, aquelas consideradas “deficientes” enxergam nos mesmos problemas oportunidades de superação e crescimento. Elas são resilientes.

            Cabe, portanto, ao gestor de Recursos Humanos de uma organização promover essa inclusão, selecionando trabalhadores com necessidades especiais que estejam dispostos a assumir as tarefas e as responsabilidades do cargo que almejam. Isso envolve seleção, treinamento e capacitação, para que as pessoas certas estejam fazendo a coisa certa no lugar devido. Da mesma forma como acontece na administração pública, os cargos devem ser ocupados por pessoas realmente capazes, que atendam a todas as exigências que eles exigem. Uma empresa não pode contratar alguém com deficiência auditiva para o cargo de telemarketing, muito menos um paraplégico para atuar na coleta de lixo. Identificar potencialidades, desenvolver talentos, incentivar o aprendizado, cultivar a autoestima, valorizar as diferenças, garimpar pedras preciosas: este deve ser o trabalho da Gestão de Recursos Humanos.

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