Autor: Mizael de
Souza Xavier
Aluno do curso
CST em Gestão de Recursos Humanos
Universidade
Potiguar – UnP, Natal, Rio Grande do Norte
O conceito de liderança servidora é uma importante
contribuição do cristianismo à nossa sociedade, acima de tudo ocidental. Dentre
todas as religiões existentes, o cristianismo talvez seja a única que não
apenas valoriza, como também estimula as relações interpessoais, sendo essas
exercidas num nível de igualdade e servidão. Se pensarmos em termos históricos
ao pensarmos a respeito da liderança, remetendo-nos ao período em que os fatos
narrados no Novo Testamento ocorreram, descobriremos uma liderança totalmente
autocrática, centrada numa única pessoa que detinha o poder. Assim era com os
Romanos, onde toda a autoridade estava centrada na figura do imperador, que
considerava a si mesmo um deus; e também no Egito, onde os faraós também eram
figuras centrais, tanto política como religiosamente.
O
povo judeu, a nação de Israel, era governada por lideranças escolhidas por
Deus, os juízes e os reis. Essa liderança era representativa, pois os líderes
representavam a vontade de Deus para o seu povo e eram incumbidos de guiá-lo.
Durante o período em que o Antigo Testamento foi terminado até o nascimento de
Jesus, a nação de Israel passou por diversos desterros e invasões, vindo a ser
subjugada finalmente por Roma, onde Cesar era o líder supremo. Mas ainda havia
entre o povo algumas lideranças, destacando-se os fariseus, com seu
autoritarismo e o desprezo pelas classes mais baixas, que não possuíam acesso
ao mesmo tipo de conhecimento teológico que eles.
Não
somente naquela época, mas durante toda a história da humanidade os povos foram
governados por imperadores, reis e ditadores que detinham o poder religioso e
político da sociedade, impondo as suas leis e punindo quem porventura ousasse
discordar de seus ideais e métodos. A igreja católica romana durante séculos
impôs a sua fé por meio da força bruta, da Inquisição, das Cruzadas, da
catequese dos novos povos. Esse foi um lado negro do cristianismo que deve ser
descartado quando pensamos no ideal de liderança pregado por aquele que dá
sentido à palavra “cristianismo” ou “cristão”: Jesus Cristo. É através dos seus
ensinamentos e, acima de tudo, da sua vida e do seu exemplo, que podemos
ensinar e viver, hoje, uma liderança servidora, onde as pessoas tem importância
e estão em posição privilegiada diante do líder.
Um
dos maiores princípios do líder deve ser o de servir. Se o nosso modelo de
Liderança está sendo construído através da Palavra de Deus, servir será a nossa
primeira atitude a ser observada, porque todos os grandes líderes que temos
conhecimento da História bíblica, seja do Antigo ou do Novo Testamento, tinham
como ponto principal o serviço a Deus. Claro que este serviço envolve vários
outros fatores, como obediência, fidelidade e sacrifício, coisas que veremos a
seguir.
O apóstolo Paulo, ao falar sobre a sua própria função,
usa constantemente o termo “servo” (Rm 1:1; Gl 1:10; Tito 1:1). Segundo Dr.
Shedd (2008, p. 50):
Paulo usa diakonos em próxima relação a “obreiros” (ergates) e “ministros” (cf. 1 Co 3.5, 9; 2 Co 6.1, 4; 1 Co
16.15-16). Os obreiros e os ministros são aqueles que têm se dedicado ao
serviço dos santos. Os dons de apostolado, profecia, evangelista e
pastor-mestre em Efésios 4.11 são distribuídos para a promoção e o treinamento
de cristãos para o trabalho do ministério (ergon
diakonias, v. 12). Isso significa que nenhuma função na Igreja, sendo ela
exaltada, deve ser exercida sem um “espírito de serventia”. Paulo usa o termo hupereta (“servo”, etimologicamente
“remador de baixo”, em um navio a remo, 1 Co 4.1), para enfatizar essa atitude
humilde.
Quando
falamos em servir devemos nos perguntar: O que é servir? Como e quando devemos
servir? A quem devemos servir? Qual a finalidade do nosso serviço? Quais são as
recompensas? Quais são as implicações espirituais, físicas e materiais do
serviço cristão? Antes de tudo, servir é um dom de Deus, um mover sobrenatural
na vida do cristão que o influencia, capacita-o e o LEVA a se colocar a
disposição de Deus e do seu Reino, incondicionalmente, em todas as áreas e
situações. Mas é ainda um dom muito pouco cobiçado pelos crentes,
principalmente os líderes. Todos querem falar em línguas, querem profetizar,
mas poucos desejam ter o dom de servir. Talvez não compreendam que qualquer dom
espiritual é um dom de serviço, pois todos estão colocados à serviço da Igreja,
para a edificação do corpo de Cristo.
Existe
uma máxima que diz: Quem não vive para
servir, não serve para viver. De fato, existem muitas pessoas que fazem
questão de ser servidas o tempo todo, acham que o mundo está aqui para girar em
torno delas. Para elas, as pessoas não são nada menos que seus mordomos. Mas
quando chega a sua vez de servir, elas se omitem, a não ser que isso redunde em
algum benefício próprio. O líder segundo o coração de Deus não é assim. Ele vê na
liderança não um trampolim para o seu crescimento pessoal, embora esse
crescimento aconteça, mas uma chance de servir ao Senhor e aos irmãos. Ser
líder, para ele, só tem sentido se estiver contribuindo para o crescimento das
pessoas, do Reino de Deus, servindo em todo tempo, sem esperar ser aplaudido ou
recompensado por isso.
O
líder servidor não está em busca de satisfazer as suas necessidades, mas de
ajudar seus colaboradores a crescerem no ministério para que o próprio
ministério cresça, podendo abrir mão da sua própria vontade (Mt 26:42). O seu
sucesso está em obter êxito para o Senhor, em cumprir a sua meta da melhor
maneira possível, sob a direção do Espírito Santo. A sua glória, a sua coroa
está no serviço altruísta prestado a Deus, nos frutos colhidos, independente do
seu sucesso individual, pois ele trabalha em grupo e para o grupo. Ele serve
por motivos corretos: para a glória de Deus (Mt 6:1-14).
Mas
esquecer de si mesmo para servir não significa querer agradar a todos, pois o
próprio Jesus não fez isso. A Palavra de Deus nos deixa bem claro: “Se
possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens...” (Rm 12:18),
o que significa que nem sempre o conseguiremos, pois não dependerá apenas da
nossa vontade. Se um líder desejar agradar a todos igualmente, como o
conseguirá? Cada pessoa pensa e sente de um jeito, cada um tem seus próprios
desejos e interesses. Como satisfazer a todos? A chave é: buscar agradar
somente a Deus. Se estamos fazendo a vontade de Deus, procurando agradá-lo em
tudo, isto será agradável aos nossos colaboradores. Todavia, os que se
desagradarem, certamente estarão em desacordo com o que Deus quer.
Como
em todas as questões de nossas vidas, Jesus é o nosso maior exemplo do que é um
líder que vive para servir. A liderança, segundo o Senhor, não deve ser
exercida como o mundo faz, uns dominando sobre os outros, mas aquele que quiser
ser o primeiro, o líder, deve ser aquele que serve, pois o próprio Jesus não
veio para ser servido, mas para servir (Mt 20:28). Ao lavar os pés dos seus discípulos (Jo
13:1-11), Jesus deixou bem claro o tipo de liderança que esperava que eles
exercessem. O costume daquela época era que o menor dos servos da casa ficasse
responsável por lavar os pés dos convidados, e foi isso que Jesus fez. E se
lembrarmos que Jesus era o próprio Deus encarnado, o seu ato se torna ainda
mais significativo. Logo, ficamos imaginando o que nós, iguais, devemos fazer
uns pelos outros.
Um
coração servil é uma resposta de gratidão ao amor incondicional de Deus e ao seu
perdão gratuito. Quando estamos servindo uns aos outros, estamos manifestando o
nosso compromisso com Aquele que nos remiu, que se fez servo para morrer em
nosso lugar. Da mesma forma que o nosso perdão é uma resposta ao perdão que
Deus nos ofertou, servir também deve ser um eco à voz de Deus na nossa vida, a
voz – palavra – que nos trouxe salvação. Deixar de servir é ser ingrato a Deus.
Deus bem que poderia dizer: “Sendo Deus eu me fiz servo e morri por você, então
porque você não faz o mesmo por seu irmão?”.
O
líder servil não busca autoenriquecimento ou autopromoção (Jo 6:14,15; Mc
14:61,62; 15:19-20), mas preocupa-se com as pessoas e as suas necessidades,
mesmo que elas não o compreendam e o desprezem. Ele não está em busca de
títulos (Mt 23:8-10), mas de agradar a Deus. Ele entende que servir é uma
necessidade (Lc 22:26; Mc 10:42-44), e que não demonstra um sinal de fraqueza
(1 Rs 12:7-11). Ele continua com sua autoridade preservada e ainda mais
acentuada quando serve, pois é exemplo e faz com que seus colaboradores se
sintam a vontade e constrangidos a servir. O líder servidor serve ao Senhor com
alegria (Sl 100:2).
Referências bibliográficas
SHEDD, Russel P. O líder que Deus usa. São Paulo: Vida
Nova, 2008.
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