sábado, 5 de maio de 2012

LIDERANÇA SERVIDORA


Autor: Mizael de Souza Xavier

Aluno do curso CST em Gestão de Recursos Humanos

Universidade Potiguar – UnP, Natal, Rio Grande do Norte



           


O conceito de liderança servidora é uma importante contribuição do cristianismo à nossa sociedade, acima de tudo ocidental. Dentre todas as religiões existentes, o cristianismo talvez seja a única que não apenas valoriza, como também estimula as relações interpessoais, sendo essas exercidas num nível de igualdade e servidão. Se pensarmos em termos históricos ao pensarmos a respeito da liderança, remetendo-nos ao período em que os fatos narrados no Novo Testamento ocorreram, descobriremos uma liderança totalmente autocrática, centrada numa única pessoa que detinha o poder. Assim era com os Romanos, onde toda a autoridade estava centrada na figura do imperador, que considerava a si mesmo um deus; e também no Egito, onde os faraós também eram figuras centrais, tanto política como religiosamente.

            O povo judeu, a nação de Israel, era governada por lideranças escolhidas por Deus, os juízes e os reis. Essa liderança era representativa, pois os líderes representavam a vontade de Deus para o seu povo e eram incumbidos de guiá-lo. Durante o período em que o Antigo Testamento foi terminado até o nascimento de Jesus, a nação de Israel passou por diversos desterros e invasões, vindo a ser subjugada finalmente por Roma, onde Cesar era o líder supremo. Mas ainda havia entre o povo algumas lideranças, destacando-se os fariseus, com seu autoritarismo e o desprezo pelas classes mais baixas, que não possuíam acesso ao mesmo tipo de conhecimento teológico que eles.

            Não somente naquela época, mas durante toda a história da humanidade os povos foram governados por imperadores, reis e ditadores que detinham o poder religioso e político da sociedade, impondo as suas leis e punindo quem porventura ousasse discordar de seus ideais e métodos. A igreja católica romana durante séculos impôs a sua fé por meio da força bruta, da Inquisição, das Cruzadas, da catequese dos novos povos. Esse foi um lado negro do cristianismo que deve ser descartado quando pensamos no ideal de liderança pregado por aquele que dá sentido à palavra “cristianismo” ou “cristão”: Jesus Cristo. É através dos seus ensinamentos e, acima de tudo, da sua vida e do seu exemplo, que podemos ensinar e viver, hoje, uma liderança servidora, onde as pessoas tem importância e estão em posição privilegiada diante do líder.

            Um dos maiores princípios do líder deve ser o de servir. Se o nosso modelo de Liderança está sendo construído através da Palavra de Deus, servir será a nossa primeira atitude a ser observada, porque todos os grandes líderes que temos conhecimento da História bíblica, seja do Antigo ou do Novo Testamento, tinham como ponto principal o serviço a Deus. Claro que este serviço envolve vários outros fatores, como obediência, fidelidade e sacrifício, coisas que veremos a seguir.

O apóstolo Paulo, ao falar sobre a sua própria função, usa constantemente o termo “servo” (Rm 1:1; Gl 1:10; Tito 1:1). Segundo Dr. Shedd (2008, p. 50):



Paulo usa diakonos em próxima relação a “obreiros” (ergates) e “ministros” (cf. 1 Co 3.5, 9; 2 Co 6.1, 4; 1 Co 16.15-16). Os obreiros e os ministros são aqueles que têm se dedicado ao serviço dos santos. Os dons de apostolado, profecia, evangelista e pastor-mestre em Efésios 4.11 são distribuídos para a promoção e o treinamento de cristãos para o trabalho do ministério (ergon diakonias, v. 12). Isso significa que nenhuma função na Igreja, sendo ela exaltada, deve ser exercida sem um “espírito de serventia”. Paulo usa o termo hupereta (“servo”, etimologicamente “remador de baixo”, em um navio a remo, 1 Co 4.1), para enfatizar essa atitude humilde.



            Quando falamos em servir devemos nos perguntar: O que é servir? Como e quando devemos servir? A quem devemos servir? Qual a finalidade do nosso serviço? Quais são as recompensas? Quais são as implicações espirituais, físicas e materiais do serviço cristão? Antes de tudo, servir é um dom de Deus, um mover sobrenatural na vida do cristão que o influencia, capacita-o e o LEVA a se colocar a disposição de Deus e do seu Reino, incondicionalmente, em todas as áreas e situações. Mas é ainda um dom muito pouco cobiçado pelos crentes, principalmente os líderes. Todos querem falar em línguas, querem profetizar, mas poucos desejam ter o dom de servir. Talvez não compreendam que qualquer dom espiritual é um dom de serviço, pois todos estão colocados à serviço da Igreja, para a edificação do corpo de Cristo.

            Existe uma máxima que diz: Quem não vive para servir, não serve para viver. De fato, existem muitas pessoas que fazem questão de ser servidas o tempo todo, acham que o mundo está aqui para girar em torno delas. Para elas, as pessoas não são nada menos que seus mordomos. Mas quando chega a sua vez de servir, elas se omitem, a não ser que isso redunde em algum benefício próprio. O líder segundo o coração de Deus não é assim. Ele vê na liderança não um trampolim para o seu crescimento pessoal, embora esse crescimento aconteça, mas uma chance de servir ao Senhor e aos irmãos. Ser líder, para ele, só tem sentido se estiver contribuindo para o crescimento das pessoas, do Reino de Deus, servindo em todo tempo, sem esperar ser aplaudido ou recompensado por isso.

            O líder servidor não está em busca de satisfazer as suas necessidades, mas de ajudar seus colaboradores a crescerem no ministério para que o próprio ministério cresça, podendo abrir mão da sua própria vontade (Mt 26:42). O seu sucesso está em obter êxito para o Senhor, em cumprir a sua meta da melhor maneira possível, sob a direção do Espírito Santo. A sua glória, a sua coroa está no serviço altruísta prestado a Deus, nos frutos colhidos, independente do seu sucesso individual, pois ele trabalha em grupo e para o grupo. Ele serve por motivos corretos: para a glória de Deus (Mt 6:1-14).

            Mas esquecer de si mesmo para servir não significa querer agradar a todos, pois o próprio Jesus não fez isso. A Palavra de Deus nos deixa bem claro: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens...” (Rm 12:18), o que significa que nem sempre o conseguiremos, pois não dependerá apenas da nossa vontade. Se um líder desejar agradar a todos igualmente, como o conseguirá? Cada pessoa pensa e sente de um jeito, cada um tem seus próprios desejos e interesses. Como satisfazer a todos? A chave é: buscar agradar somente a Deus. Se estamos fazendo a vontade de Deus, procurando agradá-lo em tudo, isto será agradável aos nossos colaboradores. Todavia, os que se desagradarem, certamente estarão em desacordo com o que Deus quer.

            Como em todas as questões de nossas vidas, Jesus é o nosso maior exemplo do que é um líder que vive para servir. A liderança, segundo o Senhor, não deve ser exercida como o mundo faz, uns dominando sobre os outros, mas aquele que quiser ser o primeiro, o líder, deve ser aquele que serve, pois o próprio Jesus não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20:28).  Ao lavar os pés dos seus discípulos (Jo 13:1-11), Jesus deixou bem claro o tipo de liderança que esperava que eles exercessem. O costume daquela época era que o menor dos servos da casa ficasse responsável por lavar os pés dos convidados, e foi isso que Jesus fez. E se lembrarmos que Jesus era o próprio Deus encarnado, o seu ato se torna ainda mais significativo. Logo, ficamos imaginando o que nós, iguais, devemos fazer uns pelos outros.

            Um coração servil é uma resposta de gratidão ao amor incondicional de Deus e ao seu perdão gratuito. Quando estamos servindo uns aos outros, estamos manifestando o nosso compromisso com Aquele que nos remiu, que se fez servo para morrer em nosso lugar. Da mesma forma que o nosso perdão é uma resposta ao perdão que Deus nos ofertou, servir também deve ser um eco à voz de Deus na nossa vida, a voz – palavra – que nos trouxe salvação. Deixar de servir é ser ingrato a Deus. Deus bem que poderia dizer: “Sendo Deus eu me fiz servo e morri por você, então porque você não faz o mesmo por seu irmão?”.

            O líder servil não busca autoenriquecimento ou autopromoção (Jo 6:14,15; Mc 14:61,62; 15:19-20), mas preocupa-se com as pessoas e as suas necessidades, mesmo que elas não o compreendam e o desprezem. Ele não está em busca de títulos (Mt 23:8-10), mas de agradar a Deus. Ele entende que servir é uma necessidade (Lc 22:26; Mc 10:42-44), e que não demonstra um sinal de fraqueza (1 Rs 12:7-11). Ele continua com sua autoridade preservada e ainda mais acentuada quando serve, pois é exemplo e faz com que seus colaboradores se sintam a vontade e constrangidos a servir. O líder servidor serve ao Senhor com alegria (Sl 100:2).



Referências bibliográficas



SHEDD, Russel P. O líder que Deus usa. São Paulo: Vida Nova, 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!