sexta-feira, 18 de maio de 2012

OS MUITO "INGUINORANTES" QUE ME PERDOEM


Dez motivos que comprovam que inteligência é fundamental


            Talvez seja preconceito, não o sei bem, mas os muito ignorantes que me perdoem, mas inteligência é fundamental. Talvez devamos primeiro definir o termo inteligência. Segundo o dicionário Aurélio, inteligência significa “1. Faculdade ou capacidade de aprender, apreender, compreender ou adaptar-se facilmente; intelecto, intelectualidade. 2. Destreza mental; agudeza, perspicácia. 3. Pessoa inteligente”. Logo, todos nós, seres humanos nascemos com essa capacidade embutida no nosso DNA. Não existem homens e mulheres acéfalos, pois estes morrem logo após o parto. O cérebro, localizado na nossa caixa craniana, vulgo “cabeça”, está lá, criado e capacitado para o uso imediato e constante, salvo por algum tipo de anomalia genética ou congênita capaz de incapacitar mentalmente o indivíduo. A esses dão o nome de “deficiente mental”, ou: “portador de necessidades especiais”.

            Mas, infelizmente, não são todas as pessoas que se dão consciência de que possuem esta capacidade de desenvolver seu raciocínio. Usam o cérebro apenas para as funções mais básicas e vitais, como enxergar, sentir fome e dor, diferenciar sons, cores, sabores e texturas, calcular, lembrar de algo, esquecer de algo mais, etc. A maioria das pessoas, na verdade, acha que inteligência é status, é para aqueles que podem pagar por ela, para os supergênios que frequentam escolas especiais. As pessoas humildes acham que ser inteligente é para quem tem dinheiro. Outros acham que ela não é importante, que comer, trabalhar e fazer suas necessidades fisiológicas já é o bastante.

            Todavia, vamos enumerar dez razões que comprovam que inteligência é fundamental, principalmente dentro de uma sociedade competitiva como a nossa. Deus criou o homem e o dotou de entendimento. É preciso saber utilizá-lo.


1) Desenvolver a capacidade de raciocínio, a intelectualidade, é uma questão de sobrevivência. Sete entre dez pessoas que buscam emprego no Brasil hoje não são admitidas porque não sabem fazer sequer o uso da língua portuguesa, falada ou escrita. As novas tecnologias, a globalização da cultura e da economia, o desenvolvimento científico requerem cada vez mais capacidade de raciocínio, de saber pensar para lidar com questões difíceis e complexas. Apesar de o segundo grau completo ser o mínimo exigido por algumas empresas para admitirem funcionários, nem mesmo esses estão livres de não saber conversar, desenvolver um assunto, pois jamais se interessaram em aprender algo mais que o be-a-bá. Todavia, quanto maior o conhecimento, mas qualidade de mão de obra, mas possibilidade de crescimento profissional, mais probabilidades de entrar no mercado de trabalho.


2) Mas a capacidade de aprender, a destreza mental e a perspicácia nem sempre são o suficiente. Há que se separar inteligência de sabedoria. No dicionário, sabedoria é um grande conhecimento, mas isso não nos diz muita coisa. Vamos comparar: foi preciso um grande conhecimento para fabricar a bomba atômica, mas será que jogá-la sobre Hiroxima demonstrou alguma sabedoria? Essa é uma questão filosófica e ética. Uma coisa é ser inteligente, outra é saber aplicar essa inteligência. Isto é sabedoria.


3) A inteligência é algo que existe dentro de cada um. Ela não tem preconceitos. Todos nós, brancos ou pretos, pobres ou ricos nascemos com a capacidade para aprender e desenvolver nossa intelectualidade. Os mesmos genes presentes no cérebro de Bill Gates estão presentes no cérebro de qualquer outro ser humano. Por dentro somos todos iguais! Logo, não há desculpa para não aprender, para não buscar desenvolver-se intelectualmente. É claro que desenvolvemos capacidades específicas. Por mais inteligente que Bill Gates possa ser, talvez ela não consiga fazer uma escultura em madeira. E é bem provável que Aleijadinho nada entendia de astrofísica. Napoleão Bonaparte talvez nunca tenha composto uma sinfonia, e talvez Mozart nada sabia sobre a arte da guerra. Cada inteligência é uma inteligência; cada pessoa tem seu talento específico. O que existe são “inteligências”.


4) Infelizmente,e nem todas as pessoas têm acesso a tudo que poderia lhes ajudar nesse desenvolvimento intelectual. O cérebro é algo que precisa ser usado, desenvolvido. Ele é como um computador: possui memória de fábrica, mas se não preenchermos essa memória com algo, ela permanecerá vazia. Para preencher nosso cérebro, é necessário uma boa dose do conhecimento que se adquire através da leitura de livros, revistas e jornais; das lições que aprendemos na escola, nos cursos, na faculdade. As classes mais baixas estão distantes de seguir essa regra, pois ganham o básico para a sua sobrevivência. Não podem ir a teatros assistir a uma boa peça, comprar uma enciclopédia, navegar na Internet. Logo, deveria ser uma obrigação dos governantes possibilitar o acesso das classes mais humildes da sociedade às diversas fontes de do conhecimento. As fontes de conhecimentos accessíveis estão abarrotadas de informações inúteis, como veremos mais adiante, que são as únicas disponíveis de forma gratuita.


5) Por outro lado, não são todos que estão interessados no saber. Mesmo que isto seja uma questão cultural e histórica, deve ser pensado. Se formos imaginar o dinheiro que é gasto anualmente com o lazer (principalmente futebol), com cigarros, bebidas alcoólicas, carnavais e o consumo desenfreado de coisas supérfluas, perceberemos que existe aí uma questão de prioridades. As pessoas estão definindo o que é essencial e o que não é. Mas baseadas em que? Quem lhes disse que inteligência não é fundamental? Ou quem lhes ensinou que é? Quem alguma vez já lhes ensinou que sem inteligência o homem assemelha-se aos animais irracionais? O mercado livreiro lucraria muito mais se as pessoas se dessem conta da importância suprema da leitura. Mas nem todos gostam de ler. As crianças e adolescentes estão mais interessadas em jogos eletrônicos. Estes desenvolvem pouco da sua capacidade motora e de raciocínio rápido, mas de pouco servirá esse conhecimento na busca por um bom emprego. A verdade é que a maioria das pessoas torce o nariz para o conhecimento, para a cultura de qualidade. Divertir-se, embriagar-se é bem mais interessante, dá mais prazer.


6) A inteligência que necessitamos não deve ser alicerçada em coisas volúveis, inúteis. Existe na mídia uma grande variedade de lixo cultural que deve ser descartado. De que adianta preencher a nossa mente com coisas que nos tornam cada vez mais desinformados? De que adianta absorver um conhecimento que não servirá de nada para o nosso desenvolvimento como pessoas, como cidadãos, pais e mães, filhos e filhas, profissionais, educadores, religiosos, políticos, artistas? Existe um conhecimento que é destrutivo, que inverte os valores a serem apreendidos. Deixando de lado a expressão que afirma que “gosto não se discute”, precisamos aceitar que existe uma quantidade absurda de lixo cultural tóxico disponível no mercado atual. Nunca se produziu tanta porcaria para o cérebro como nos dias atuais. O pensamento do homem moderno (principalmente nas classes mais humildes e desinformadas) tem sido alimentado com informações e conhecimentos irrelevantes, deformadores e destrutivos através desse lixo despejado diariamente em toda a mídia. Mesmo os que alimentam seus cérebros com aquilo que é sadio se deixam levar pela maçã podre do caixote. Basta voltarmos nossos olhos para os programas televisivos, principalmente aqueles domingueiros, como o Domingão do Faustão. Todo o seu conteúdo é uma agressão à capacidade intelectual humana. E o que dizer das letras das músicas mais apreciadas pelas classes populares, como o forró, o funk e o axé music? A maioria passa informações que, ou refletem o pensamento dominante, ou pretendem transformá-lo. É feita uma apologia constante ao uso excessivo de álcool (sem que alguém seja preso por isso), à prostituição (afirmando que a prostituta do cabaré é superior a esposa), à promiscuidade, à infidelidade matrimonial (pregando a destruição da família, que outrora foi considerada um alicerce firme da sociedade), a violência, o uso de drogas, o preconceito, a discriminação. Suas letras incrivelmente vazias (em especial as do axé music), levam as pessoas a dançar e a manter sua mente no vácuo.


7) A ignorância é um grande mal social. A falta de sabedoria exclui o ser humano de todas as formas. Vale a pena lembrar que durante séculos a igreja católica romana manteve o seu poder secular e espiritual através do cultivo da ignorância entre os seus fiéis. A leitura da Bíblia, livro que poderia desmistificar esse poder e condenar seus detentores, era expressamente proibida e punida com a excomunhão ou morte. Qualquer pessoa que surgisse com uma nova informação que contrariasse os dogmas da igreja era tida como herege, julgada e, não poucas vezes, executada. Que o diga Sócrates! Martinho Lutero ousou pensar, duvidar, criticar, buscar novos horizontes para sua sabedoria e sofreu as conseqüências. O seu pensamento crítico trouxe uma nova luz ao mundo. Durante as ditaduras históricas espalhadas pelo mundo, pensar custava um alto preço. Todo e qualquer ditador que deseja manter-se no poder tem como receita infalível o cultivo da ignorância. Quanto menos sabemos, mais suscetíveis nos tornamos aos maus políticos, charlatões, estelionatários, ditadores, trambiqueiros. Quanto menos buscamos conhecimento, mais nos tornamos supersticiosos, mais nos deixamos levar pela propaganda enganosa da mídia que insiste em dizer que o álcool e o tabaco são um bom negócio para a nossa saúde. Então podemos dar nome a essa nova forma de ditadura, a “ditadura da ignorância”.


8) Não basta, porém, semear a inteligência no solo do nosso cérebro. Se este solo não for bom, se não dispuser das condições mínimas necessárias para que a sabedoria germine, todo conhecimento adquirido se perderá ou não surtirá o efeito esperado, não haverá frutos a serem colhidos. Existem muitos fatores que contribuem para a deterioração da inteligência (fatores econômicos, sociais, emocionais, etc.), e existem, também, os que dizem respeito à massa encefálica (fatores fisiológicos). O cérebro necessita estar em bom funcionamento para desenvolver todo o seu potencial de forma satisfatória. É necessário que haja um cuidado todo especial com a saúde do corpo e da mente para que se possa viver uma vida intelectual saudável. Uma vida ociosa e sedentária engessam o cérebro; uma vida atribulada e estressante sobrecarregam-no. O mundo de hoje é maléfico ao desenvolvimento mental. Uma alimentação rica em gorduras e produtos químicos, o uso exagerado de bebidas alcoólicas, o consumo de nicotina e outras drogas têm causado sérios danos a saúde das pessoas, afetando seu cérebro. Mente sã, corpo são. E porque não dizer também: corpo são, mente sã? Cuidar da saúde do corpo significa preparar o solo da mente, adubá-lo. Estando sadios temos mais chances de apreender o conhecimento necessário para o desenvolvimento do nosso saber.


9) A inteligência não pode ser burra. Isto parece um paradoxo, mas é a realidade. A sabedoria jamais deverá ser absoluta, inflexível. Assim como o filósofo que afirmou “só sei que nada sei”, devemos crer que conhecimento nunca é suficiente, há sempre algo mais a ser aprendido. As pessoas realmente sábias aprendem a desenvolver um pensamento crítico que as possibilita não aceitar de pronto qualquer verdade que se diga absoluta. O cientista e escritor Carl Sagan, em seu livro “O mundo assombrado pelos demônios”, defende que todos os seres humanos devem ser dotados de uma capacidade para criticar, para discernir as informações antes de digeri-las. Num mundo afogado na superstição, na crença exagerada no sobrenatural, na confiança da existência de extraterrestres, duendes, cristais de poder, fantasmas, ele apóia o ceticismo científico como uma forma de fugir das trevas da ignorância e enxergar a luz da verdade dos fatos. Qualquer coisa que sabemos necessita passar pelo crivo da verdade, do experimento científico. O mundo tem criado uma forma de inteligência capaz de se moldar aos anseios de uma população oprimida, carente, que busca algo mais que o natural, que aquilo que se possa sentir. Mas é preciso encarar a realidade de que nem tudo que é considerado com fato e verdade é realmente assim.


10) Como na época da inquisição e das ditaduras, é essencial para a manutenção do poder que a população permaneça ignorante, que jamais aprenda, que não se interesse em buscar conhecimento. O conhecimento enobrece, dignifica, transforma, revoluciona. Numa sociedade democrática, que valoriza o homem e o seu pensamento, investir na aquisição do saber e no desenvolvimento da inteligência é crucial ao progresso social e econômico. Uma nação burra não cresce, atrofia. O saber é a arma mais poderosa de todas as nações, é mais revolucionário que qualquer outro fator. Quando o ser humano toma posse da sua capacidade de pensar, é que começa a existir. Para que haja uma sociedade justa e verdadeiramente democrática, é necessário que se invista na produção do conhecimento científico e literário. A maior riqueza do homem está no pensar. Ele pode ser despojado de todos os seus bens, da sua dignidade e ainda assim manter intacta a sua humanidade. Mas a partir do momento em que deixa de pensar, ele se desumaniza, torna-se apenas um objeto, uma estatística. E este é o primeiro passo para o caos.

Um comentário:

Comente!