sexta-feira, 18 de maio de 2012

Falhas na comunicação: uma visão holística (uma breve introdução)


Ao falarmos em problemas relacionados a comunicação na empresa, devemos pensar em todos os aspectos que envolvem a comunicação. Os aspectos técnicos e eletrônicos não podem estar dissociados do elemento humano. Afinal, são as pessoas que criam e enviam as mensagens. Por mais informal que uma mensagem de email possa parecer, por detrás dela sempre existe uma pessoa querendo se comunicar e naquele email está o que ela pretende dizer, carregado de cargas emocionais e profissionais. Isto é, sempre nos comunicamos como um todo, de modo que a comunicação na empresa sempre será humana e pessoal. Comunicar-se é relacionar-se.

            Para que a comunicação alcance os resultados esperados e as falhas e distorções sejam eliminadas, é necessária uma visão holística das pessoas e da empresa. Ainda que a empresa pareça fragmentar-se, compondo-se de diversos setores e pessoas, ela deve ser reconhecida como um corpo, onde todas as partes estão interligadas e são mutuamente interdependentes. Qualquer falha na comunicação que afete uma única pessoa ou grupo ou um único setor, consequentemente irá refletir-se em todo o restante da estrutura organizacional. Uma única parte doente do corpo ou que não esteja funcionando da maneira correta, afetará todo ele, porque essa parte é o corpo.

             Ao se comunicar com um colaborador, por mais secundária que seja a posição dele na empresa, o gestor deve estar certo de que houve um fluxo de comunicação de excelência, sem distorções, de modo que o que foi falado tenha sido entendido corretamente e está sendo posto em prática também de maneira correta. Por sua vez, as lideranças e os colaboradores também precisam enxergar a sua importância como parte de um todo, sabendo que um erro num único setor da empresa refletirá negativamente em toda a sua estrutura, porque esse setor é a empresa; e os colaboradores que nele trabalham, também.

             A visão holística não diz respeito apenas a empresa como uma estrutura organizacional, mas também compreende as pessoas que a compõem. Isto significa levar em conta o fator humano no processo de comunicação, tanto nos seus aspectos positivos, aquilo que pode beneficiar a comunicação; quanto nos negativos, aquilo que pode atrapalhá-la. Uma visão holística do ser humano envolve a compreensão, aceitação e potencialização de suas habilidades e competências, bem como dos seus aspectos emocionais, sociais, culturais, educativos e até mesmo comportamentais e temperamentais. Este ser humano holístico está associado indistintamente ao cargo que ocupa. Isto é, não é uma função que é gerida, mas uma pessoa.

            Embora possam haver problemas de estrutura física que impeçam que um colaborador receba, retenha, interprete e execute de maneira satisfatória uma mensagem, o caso é que os aspectos humanos representam uma enorme parcela do problema ou da solução. Desta forma, manter uma visão do todo e perceber os pontos críticos que impedem que a comunicação empresarial alcance resultados, é imprescindível. Olhando somente para as partes, para os problemas periféricos, é possível perder de vista o foco principal do problema, impedindo que as mudanças necessárias sejam implementadas. Mas isso só se torna possível quando cada elemento da organização mantém a sua individualidade, mas sempre se considerando parte de um todo muito maior.

EU TE AMO


ESTA PEOSIA FAZ PARTE DO MEU LIVRO "EU TE AMO"
À VENDA NAS LIVRARIAS POTYLIVROS DE NATAL E MOSSORÓ, RN


Eu te amo quando estou sozinho
Sei que no meu caminho anda a solidão
Eu te quero quando cai a chuva
Quando caem lágrimas do meu coração.


Eu te amo quando chega a noite
E eu sinto frio vendo o sol se pôr
Eu te quero em todas as horas
Em todos os momentos que eu sinto dor.
 

Eu te espero sempre que eu choro
Quando eu imploro um consolo teu
Eu queria ter você agora
Eu te amo tanto que nem sou mais eu.


Eu te procuro toda vez que sinto
Esta falta imensa que você me faz
Eu te chamo em todas as casas
Em todos os cantos não te vejo mais.


Eu te amo quando me odeio
Por ter dito adeus para não voltar
Eu te quero porque sei que ainda
Poderei um dia tentar te encontrar.


Eu te amo por tudo que fomos
E por tudo aquilo que você representou
Eu te amo porque sei que um dia
Sem querer, talvez, você me amou.



OS MUITO "INGUINORANTES" QUE ME PERDOEM


Dez motivos que comprovam que inteligência é fundamental


            Talvez seja preconceito, não o sei bem, mas os muito ignorantes que me perdoem, mas inteligência é fundamental. Talvez devamos primeiro definir o termo inteligência. Segundo o dicionário Aurélio, inteligência significa “1. Faculdade ou capacidade de aprender, apreender, compreender ou adaptar-se facilmente; intelecto, intelectualidade. 2. Destreza mental; agudeza, perspicácia. 3. Pessoa inteligente”. Logo, todos nós, seres humanos nascemos com essa capacidade embutida no nosso DNA. Não existem homens e mulheres acéfalos, pois estes morrem logo após o parto. O cérebro, localizado na nossa caixa craniana, vulgo “cabeça”, está lá, criado e capacitado para o uso imediato e constante, salvo por algum tipo de anomalia genética ou congênita capaz de incapacitar mentalmente o indivíduo. A esses dão o nome de “deficiente mental”, ou: “portador de necessidades especiais”.

            Mas, infelizmente, não são todas as pessoas que se dão consciência de que possuem esta capacidade de desenvolver seu raciocínio. Usam o cérebro apenas para as funções mais básicas e vitais, como enxergar, sentir fome e dor, diferenciar sons, cores, sabores e texturas, calcular, lembrar de algo, esquecer de algo mais, etc. A maioria das pessoas, na verdade, acha que inteligência é status, é para aqueles que podem pagar por ela, para os supergênios que frequentam escolas especiais. As pessoas humildes acham que ser inteligente é para quem tem dinheiro. Outros acham que ela não é importante, que comer, trabalhar e fazer suas necessidades fisiológicas já é o bastante.

            Todavia, vamos enumerar dez razões que comprovam que inteligência é fundamental, principalmente dentro de uma sociedade competitiva como a nossa. Deus criou o homem e o dotou de entendimento. É preciso saber utilizá-lo.


1) Desenvolver a capacidade de raciocínio, a intelectualidade, é uma questão de sobrevivência. Sete entre dez pessoas que buscam emprego no Brasil hoje não são admitidas porque não sabem fazer sequer o uso da língua portuguesa, falada ou escrita. As novas tecnologias, a globalização da cultura e da economia, o desenvolvimento científico requerem cada vez mais capacidade de raciocínio, de saber pensar para lidar com questões difíceis e complexas. Apesar de o segundo grau completo ser o mínimo exigido por algumas empresas para admitirem funcionários, nem mesmo esses estão livres de não saber conversar, desenvolver um assunto, pois jamais se interessaram em aprender algo mais que o be-a-bá. Todavia, quanto maior o conhecimento, mas qualidade de mão de obra, mas possibilidade de crescimento profissional, mais probabilidades de entrar no mercado de trabalho.


2) Mas a capacidade de aprender, a destreza mental e a perspicácia nem sempre são o suficiente. Há que se separar inteligência de sabedoria. No dicionário, sabedoria é um grande conhecimento, mas isso não nos diz muita coisa. Vamos comparar: foi preciso um grande conhecimento para fabricar a bomba atômica, mas será que jogá-la sobre Hiroxima demonstrou alguma sabedoria? Essa é uma questão filosófica e ética. Uma coisa é ser inteligente, outra é saber aplicar essa inteligência. Isto é sabedoria.


3) A inteligência é algo que existe dentro de cada um. Ela não tem preconceitos. Todos nós, brancos ou pretos, pobres ou ricos nascemos com a capacidade para aprender e desenvolver nossa intelectualidade. Os mesmos genes presentes no cérebro de Bill Gates estão presentes no cérebro de qualquer outro ser humano. Por dentro somos todos iguais! Logo, não há desculpa para não aprender, para não buscar desenvolver-se intelectualmente. É claro que desenvolvemos capacidades específicas. Por mais inteligente que Bill Gates possa ser, talvez ela não consiga fazer uma escultura em madeira. E é bem provável que Aleijadinho nada entendia de astrofísica. Napoleão Bonaparte talvez nunca tenha composto uma sinfonia, e talvez Mozart nada sabia sobre a arte da guerra. Cada inteligência é uma inteligência; cada pessoa tem seu talento específico. O que existe são “inteligências”.


4) Infelizmente,e nem todas as pessoas têm acesso a tudo que poderia lhes ajudar nesse desenvolvimento intelectual. O cérebro é algo que precisa ser usado, desenvolvido. Ele é como um computador: possui memória de fábrica, mas se não preenchermos essa memória com algo, ela permanecerá vazia. Para preencher nosso cérebro, é necessário uma boa dose do conhecimento que se adquire através da leitura de livros, revistas e jornais; das lições que aprendemos na escola, nos cursos, na faculdade. As classes mais baixas estão distantes de seguir essa regra, pois ganham o básico para a sua sobrevivência. Não podem ir a teatros assistir a uma boa peça, comprar uma enciclopédia, navegar na Internet. Logo, deveria ser uma obrigação dos governantes possibilitar o acesso das classes mais humildes da sociedade às diversas fontes de do conhecimento. As fontes de conhecimentos accessíveis estão abarrotadas de informações inúteis, como veremos mais adiante, que são as únicas disponíveis de forma gratuita.


5) Por outro lado, não são todos que estão interessados no saber. Mesmo que isto seja uma questão cultural e histórica, deve ser pensado. Se formos imaginar o dinheiro que é gasto anualmente com o lazer (principalmente futebol), com cigarros, bebidas alcoólicas, carnavais e o consumo desenfreado de coisas supérfluas, perceberemos que existe aí uma questão de prioridades. As pessoas estão definindo o que é essencial e o que não é. Mas baseadas em que? Quem lhes disse que inteligência não é fundamental? Ou quem lhes ensinou que é? Quem alguma vez já lhes ensinou que sem inteligência o homem assemelha-se aos animais irracionais? O mercado livreiro lucraria muito mais se as pessoas se dessem conta da importância suprema da leitura. Mas nem todos gostam de ler. As crianças e adolescentes estão mais interessadas em jogos eletrônicos. Estes desenvolvem pouco da sua capacidade motora e de raciocínio rápido, mas de pouco servirá esse conhecimento na busca por um bom emprego. A verdade é que a maioria das pessoas torce o nariz para o conhecimento, para a cultura de qualidade. Divertir-se, embriagar-se é bem mais interessante, dá mais prazer.


6) A inteligência que necessitamos não deve ser alicerçada em coisas volúveis, inúteis. Existe na mídia uma grande variedade de lixo cultural que deve ser descartado. De que adianta preencher a nossa mente com coisas que nos tornam cada vez mais desinformados? De que adianta absorver um conhecimento que não servirá de nada para o nosso desenvolvimento como pessoas, como cidadãos, pais e mães, filhos e filhas, profissionais, educadores, religiosos, políticos, artistas? Existe um conhecimento que é destrutivo, que inverte os valores a serem apreendidos. Deixando de lado a expressão que afirma que “gosto não se discute”, precisamos aceitar que existe uma quantidade absurda de lixo cultural tóxico disponível no mercado atual. Nunca se produziu tanta porcaria para o cérebro como nos dias atuais. O pensamento do homem moderno (principalmente nas classes mais humildes e desinformadas) tem sido alimentado com informações e conhecimentos irrelevantes, deformadores e destrutivos através desse lixo despejado diariamente em toda a mídia. Mesmo os que alimentam seus cérebros com aquilo que é sadio se deixam levar pela maçã podre do caixote. Basta voltarmos nossos olhos para os programas televisivos, principalmente aqueles domingueiros, como o Domingão do Faustão. Todo o seu conteúdo é uma agressão à capacidade intelectual humana. E o que dizer das letras das músicas mais apreciadas pelas classes populares, como o forró, o funk e o axé music? A maioria passa informações que, ou refletem o pensamento dominante, ou pretendem transformá-lo. É feita uma apologia constante ao uso excessivo de álcool (sem que alguém seja preso por isso), à prostituição (afirmando que a prostituta do cabaré é superior a esposa), à promiscuidade, à infidelidade matrimonial (pregando a destruição da família, que outrora foi considerada um alicerce firme da sociedade), a violência, o uso de drogas, o preconceito, a discriminação. Suas letras incrivelmente vazias (em especial as do axé music), levam as pessoas a dançar e a manter sua mente no vácuo.


7) A ignorância é um grande mal social. A falta de sabedoria exclui o ser humano de todas as formas. Vale a pena lembrar que durante séculos a igreja católica romana manteve o seu poder secular e espiritual através do cultivo da ignorância entre os seus fiéis. A leitura da Bíblia, livro que poderia desmistificar esse poder e condenar seus detentores, era expressamente proibida e punida com a excomunhão ou morte. Qualquer pessoa que surgisse com uma nova informação que contrariasse os dogmas da igreja era tida como herege, julgada e, não poucas vezes, executada. Que o diga Sócrates! Martinho Lutero ousou pensar, duvidar, criticar, buscar novos horizontes para sua sabedoria e sofreu as conseqüências. O seu pensamento crítico trouxe uma nova luz ao mundo. Durante as ditaduras históricas espalhadas pelo mundo, pensar custava um alto preço. Todo e qualquer ditador que deseja manter-se no poder tem como receita infalível o cultivo da ignorância. Quanto menos sabemos, mais suscetíveis nos tornamos aos maus políticos, charlatões, estelionatários, ditadores, trambiqueiros. Quanto menos buscamos conhecimento, mais nos tornamos supersticiosos, mais nos deixamos levar pela propaganda enganosa da mídia que insiste em dizer que o álcool e o tabaco são um bom negócio para a nossa saúde. Então podemos dar nome a essa nova forma de ditadura, a “ditadura da ignorância”.


8) Não basta, porém, semear a inteligência no solo do nosso cérebro. Se este solo não for bom, se não dispuser das condições mínimas necessárias para que a sabedoria germine, todo conhecimento adquirido se perderá ou não surtirá o efeito esperado, não haverá frutos a serem colhidos. Existem muitos fatores que contribuem para a deterioração da inteligência (fatores econômicos, sociais, emocionais, etc.), e existem, também, os que dizem respeito à massa encefálica (fatores fisiológicos). O cérebro necessita estar em bom funcionamento para desenvolver todo o seu potencial de forma satisfatória. É necessário que haja um cuidado todo especial com a saúde do corpo e da mente para que se possa viver uma vida intelectual saudável. Uma vida ociosa e sedentária engessam o cérebro; uma vida atribulada e estressante sobrecarregam-no. O mundo de hoje é maléfico ao desenvolvimento mental. Uma alimentação rica em gorduras e produtos químicos, o uso exagerado de bebidas alcoólicas, o consumo de nicotina e outras drogas têm causado sérios danos a saúde das pessoas, afetando seu cérebro. Mente sã, corpo são. E porque não dizer também: corpo são, mente sã? Cuidar da saúde do corpo significa preparar o solo da mente, adubá-lo. Estando sadios temos mais chances de apreender o conhecimento necessário para o desenvolvimento do nosso saber.


9) A inteligência não pode ser burra. Isto parece um paradoxo, mas é a realidade. A sabedoria jamais deverá ser absoluta, inflexível. Assim como o filósofo que afirmou “só sei que nada sei”, devemos crer que conhecimento nunca é suficiente, há sempre algo mais a ser aprendido. As pessoas realmente sábias aprendem a desenvolver um pensamento crítico que as possibilita não aceitar de pronto qualquer verdade que se diga absoluta. O cientista e escritor Carl Sagan, em seu livro “O mundo assombrado pelos demônios”, defende que todos os seres humanos devem ser dotados de uma capacidade para criticar, para discernir as informações antes de digeri-las. Num mundo afogado na superstição, na crença exagerada no sobrenatural, na confiança da existência de extraterrestres, duendes, cristais de poder, fantasmas, ele apóia o ceticismo científico como uma forma de fugir das trevas da ignorância e enxergar a luz da verdade dos fatos. Qualquer coisa que sabemos necessita passar pelo crivo da verdade, do experimento científico. O mundo tem criado uma forma de inteligência capaz de se moldar aos anseios de uma população oprimida, carente, que busca algo mais que o natural, que aquilo que se possa sentir. Mas é preciso encarar a realidade de que nem tudo que é considerado com fato e verdade é realmente assim.


10) Como na época da inquisição e das ditaduras, é essencial para a manutenção do poder que a população permaneça ignorante, que jamais aprenda, que não se interesse em buscar conhecimento. O conhecimento enobrece, dignifica, transforma, revoluciona. Numa sociedade democrática, que valoriza o homem e o seu pensamento, investir na aquisição do saber e no desenvolvimento da inteligência é crucial ao progresso social e econômico. Uma nação burra não cresce, atrofia. O saber é a arma mais poderosa de todas as nações, é mais revolucionário que qualquer outro fator. Quando o ser humano toma posse da sua capacidade de pensar, é que começa a existir. Para que haja uma sociedade justa e verdadeiramente democrática, é necessário que se invista na produção do conhecimento científico e literário. A maior riqueza do homem está no pensar. Ele pode ser despojado de todos os seus bens, da sua dignidade e ainda assim manter intacta a sua humanidade. Mas a partir do momento em que deixa de pensar, ele se desumaniza, torna-se apenas um objeto, uma estatística. E este é o primeiro passo para o caos.

TÓXICOS: nova lei, velhos problemas

texto escrito em 2006.


           O nosso país convive atualmente com o grande caos causado pela violência que corrói como um câncer todas as camadas da sociedade. Uma demonstração feroz dos agentes dessa violência pôde ser acompanhada por toda a população durante os ataques de facções criminosas a agentes das polícias em São Paulo e em alguns outros pontos do país. Atos de vandalismo, terrorismo, violência e desrespeito aos direitos humanos e a cidadania transformaram o Brasil em palco para um grande espetáculo de terror e medo. Por trás disso tudo estavam os comandantes do tráfico de drogas, atividade criminosa que mais traz lucro aos bandidos.

            Dentro desse clima de medo, insegurança e terror, entrou em vigor a Lei n. 11.343, a Nova Lei de Tóxico, de 23 de agosto de 2006. Um dos pontos mais altos desta nova Lei é que o simples usuário e dependente não é mais considerado como um criminoso, recebendo punições apenas preventivas, de atenção e de reinserção social, conforme o capítulo III, artigos 27 a 30 da referida Lei. Todavia, esta nova Lei nos traz algumas indagações, alguns pontos críticos que vale a pena ser avaliados.

            O primeiro ponto crítico diz respeito àquilo que é lícito e ilícito nas conformidades da lei. O texto da Lei mostra aquilo que se entende como as drogas passivas das penalidades prescritas, que são “as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”, conforme o parágrafo único do artigo primeiro. Como aprendemos desde a mais tenra idade escolar, estas substâncias são as chamadas “drogas ilícitas”, como a maconha, a cocaína, a heroína, o crack, o ecstasy, o LSD, os inalantes e muitas outras. São essas que movimentam bilhões, são essas que seduzem jovens para o tráfico de drogas, que promovem a criação de facções criminosas, e que, em fim, promovem todo esse caos que conhecemos bem.

            Mas o que dizer das drogas lícitas, aquelas que não são proibidas por lei, que não são as preferidas dos traficantes, mas que promovem os mesmos problemas das ilícitas? Tomemos como exemplo o consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, as duas drogas mais poderosas e mais consumidas no mundo inteiro. Certamente os redatores da Lei de Tóxicos não estavam pensando nelas quando criaram e redigiram a lei. Elas podem não afzer parte do tráfico de drogas usual, mas são contrabandeadas e falsificadas, causando grandes males à saúde do cidadão e prejuízos tributários à nação. Então vejamos alguns problemas causados pelas drogas ilícitas à saúde do usuário:

           
Maconha: náuseas, dependência psíquica, falta de iniciativa, queda de rendimento e capacidade de atenção, psicoses, depressões, confusão mental, dificuldade de compreensão e comunicação clara; prejuízo do tempo de avaliação de distâncias, prejuízos para vias respiratórias e lesões pulmonares, etc.

Cocaína: alto potencial de dependência psíquica, consumo freqüente e em quantidades excessivas devido ao seu efeito bastante curto, convulsões, derrames, ataques cardíacos, risco de paralisia fatal em caso de overdose, depressão, mania de perseguição, alucinações e outras perturbações psíquicas, destruição do septo nasal, etc.

Crack: dependência física e psíquica, lesões pulmonares, perda de apetite, pressão sanguínea alta, atitudes mais agressivas e violentas, doenças mentais, percepção do ambiente e da realidade como ameaçadores e hostis.

Ecstasy: elevado grau de dependência psíquica, esgotamento geral até um colapso físico, paranóia, depressão, falhas de memória, possíveis ataques cardíacos, natimortos de gestantes consumidoras da droga; misturado com álcool aumenta o risco de reações adversas, etc.

Heroína: overdose (causada pelo consumo intravenoso), dependência severa física e psíquica, manifestações da síndrome de abstinência durante a interrupção do consumo, risco de desmaio, podendo ocorrer sufocação com o próprio vômito e/ou paralisia respiratória durante a overdose, podendo levar a morte; total degradação do usuário, risco de contaminação com HIV, hepatite e infecções bacterianas devido ao uso de seringas, etc.

LSD: dependência psíquica, sensações que provocam fortes tremores e pânico, aceitação de riscos incontroláveis devido ao estado de humor e as sensações produzidas pela droga, estados psicóticos que eventualmente podem resultar em suicídio, etc.

Inalantes: dependência física e psíquica, risco de sofrer de Síndrome da Morte Súbita, danos ao aparelho respiratório, fígado, coração, cérebro, rins, medula óssea e outros órgãos, Síndrome de Abstinência Fetal em recém-nascidos, com eventuais conseqüências fatais, prejuízos de memória, de falta de atenção e de capacidade intelectual, morte por parada cardíaca, asfixia, etc.

            Agora comparemos com os principais problemas causados pelo consumo abusivo de álcool e tabaco, consideradas lícitas:


Tabaco (nicotina): dependência física e psíquica; na ausência repentina pode produzir depressão, irritabilidade, inquietação, ansiedade, etc.; estreitamento e calcificação dos vasos sanguíneos e paralisia dos mecanismos autolimpantes das vias respiratórias, prejuízos circulatórios, bronquite crônica, enfisema pulmonar, câncer pulmonar e outras formas de câncer; em combinação com álcool e má alimentação provoca diversos outros danos à saúde; fumar durante a gravidez causa danos ao feto, etc.

Álcool: dependência física e psíquica, danos aos órgãos internos do usuário, principalmente o fígado, estômago, pâncreas e rins, mas também o coração e o pulmão, podendo afetar, também, as funções cerebrais, dando origem a problemas mentais; alterações de personalidade, dificuldade de concentração, queda do rendimento do trabalho intelectual, alucinações, delírios, problemas de visão e coordenação, Síndrome da Abstinência Fetal e outros problemas, muitas vezes fatais, em filhos de dependentes; misturado a medicamentos pode resultar em emergências médicas, etc.


            Como podemos observar, os problemas causados pelas drogas ilícitas são iguais ou similares aos causados pelas lícitas. Devemos levar em conta, ainda, os problemas sociais e econômicos que ambas promovem. Em texto anterior (A vida por um gole), especificamos diversos males sociais causados pelo consumo de álcool. Logo, porque deve haver esta separação entre aquilo que é lícito e o que é ilícito se ambos trazem praticamente os mesmos transtornos ao ser humano e à sociedade? Porque o indivíduo que vende cocaína na esquina deve ser considerado criminoso ao passo que o que vende cigarros no boteco fica impune? Tanto um quanto outro não estão vendendo substâncias químicas que causam dependência, conforme especificada no parágrafo único do artigo primeiro da Nova Lei de Tóxico?

            O artigo 33, inciso II, parágrafo segundo diz que é crime “Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga”, sob pena de detenção de um a três anos de detenção e multa. Se o álcool é uma droga tão perigosa quanto a heroína, por exemplo, porque os produtores de comerciais de cervejas e outras bebidas alcoólicas não respondem criminalmente por induzir seus consumidores ao uso dessa droga? Porque os cantores de músicas de forró que fazem constante apologia à embriaguez por cachaça não são condenados e presos? Segundo o capítulo II, artigo 33, constitui crime “importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar”. Então, se as drogas lícitas constituem os mesmos transtornos que as ilícitas, porque os fabricantes e distribuidores de bebidas alcoólicas e de tabaco não estão passivos das penas previstas nesta lei?

            O segundo ponto crítico diz respeito ao usuário de drogas ilícitas. Dependendo da quantidade de drogas encontrada com o dependente e de suas antecedentes, ele não é mais condenado por tráfico de drogas, recebendo penas mais leves. Em seu capítulo III a Lei de Tóxicos procura atingir aquele que adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo drogas, bem como semeia, cultiva e colhe plantas para seu consumo pessoal restrito, sem intenção de vender ou fornecer a outrem. As penas previstas no artigo 28 são: advertência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Isto é bem razoável, uma vez que o usuário de drogas necessita mais de uma medida educativa que punitiva.

            Mas se um comprador de mercadoria pirateada pode receber punição por crime de receptação, por que o usuário de drogas não pode ser punido da mesma forma? Afinal de contas, não está ele usufruindo do produto do crime? É a lei da oferta e da procura: o produto (as drogas) só existe porque tem o comprador (os usuários). Se as drogas e o tráfico de drogas existem, é porque existe uma grande demanda destas substâncias entorpecentes. Se não houvesse essa demanda, se as pessoas se conscientizassem do real perigo das drogas, de todos os problemas que elas trazem ao usuário e a toda a sociedade, elas deixariam de ser consumidas, não dando mais lucro aos traficantes, deixando de ser comercializadas. Não haveria mais problemas com o tráfico de drogas.

            Não há como negar, mesmo que o mais simples usuário de drogas não mantenha no seu quintal uma plantação de maconha ou no porão um laboratório de refino de cocaína, mesmo que ele não transporte nem comercialize drogas, ele ainda é o maior responsável pela existência delas. Ele não é considerado criminoso por utilizar as drogas, mas foi para sustentar o seu vício que surgiu a atividade criminosa ligada ao seu plantio, fabricação e comercialização. Toda a problemática decorrente das drogas tem sua raiz e seu sentido no usuário comum.

            Ainda que indiretamente, cada usuário é responsável por todos os crimes praticados em nome das drogas. Vejamos alguns: tráfico de drogas, onde até mesmo crianças e adolescentes são utilizados (mulas, aviões), tráfico de armas, contrabando, seqüestros, suborno de funcionários públicos, inclusive policiais, advogados, juízes e promotores; assassinatos, lavagem de dinheiro, corrupção, chacinas, assaltos, estupros, prostituição, extorsão e tudo mais que diga respeito ao crime organizado. É o dinheiro da venda das drogas que financia todo esse poderio dos bandidos. Sem venda, sem dinheiro; sem dinheiro, sem crime.

Até bem pouco tempo a TV exibia uma campanha que mostrava que o dinheiro do consumo de drogas é que financia a violência. É o dinheiro conseguido com a venda de entorpecentes ao mais comum usuário que sustenta toda essa criminalidade. Isto quer dizer claramente que, ao comprar um pacote com uma quantidade mínima de maconha pra consumo próprio, o usuário está financiando assaltos, seqüestros, rebeliões, crimes por encomenda, corrupção e uma variedade de outros delitos mais graves. Policiais, pais de família, crianças, adolescentes e outros inocentes morrem diariamente vitimados pelo consumo de drogas ilícitas. Quem é mais criminoso nessa história: o que produz, o que distribui, o que vende ou o que compra a droga? Quem é mais culpado: o que mata ou o que mandou matar?

            O que fazer diante dessa dura realidade? Como esconder esses fatos? Devemos crer que a sociedade necessita de leis mais severas para punir com rigor os responsáveis pelos crimes praticados em nome das drogas. A sociedade urge mudanças nas suas leis para torná-las mais rigorosas e capazes. A população já não suporta mais ficar refém nas mãos de bandidos, inclusive fardados e pagos com o dinheiro dos seus impostos. Agora eles têm um trunfo nas mãos: o usuário poderá consumir sua droga sem risco de ir para a cadeia, o que provavelmente aumentará o seu consumo, que será feito mais livremente, sem medo dos rigores da lei. Quantidades pequenas poderão ser transportadas, viciados comuns e sem antecedentes criminais poderão ser usados.

            O que devemos esperar é que as leis mudem e que a venda de bebidas alcoólicas e cigarros também seja considerada como crime de tráfico de drogas, porque é justamente isso que eles são. Que a questão das drogas seja tratada como o imenso problema que ela realmente é. Que se dê mais valor à vida e se proíba tudo que pode causar artificialmente a morte. Para começar, seria interessante responsabilizar criminalmente as empresas produtoras e distribuidoras das drogas “lícitas” que diariamente matam pessoas no mundo inteiro e causam diversos prejuízos à sociedade. Talvez seja interessante, também, responsabilizar o Ministério Público por crime de conivência e negligência. Ambos deveriam ser obrigados a pagar indenizações aos que sentirem-se lesados e enganados pelas propagandas que prometem uma vida saudável e sociável através do consumo de bebidas alcoólicas, bem como aos seus familiares. Que aquilo que é “lícito” seja bom e traga progresso.


Material de apoio:
 

Coleção Drogas, Klaus H. G. Rehfeldt, ed. Brasileitura.
 
Nova Lei de Tóxico, Arnaldo Oliveira Junior, Mandamentos editora, Belo Horizonte, 2006.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

PAUSA PARA UMA POESIA


OS HOMENS E SEUS SONHOS


O homem se orgulha do seu trabalho
E das obras das suas próprias mãos
Olha para o seu sonho realizado
E enxerga nele cada gota de suor derramado
Todas as noites que passou em claro
Todo o esforço investido
E tudo aquilo de que precisou abrir mão
Para que finalmente chegasse
Onde exatamente está.

É a sua glória, o seu apogeu!
Olha para a platéia e curva-se
À espera de ovações e reconhecimento
É ele o ator principal da sua história
O autor único das suas conquistas
O arquiteto das suas grandes vitórias
Ele mereceu estar ali
Ele certamente está feliz por isso.

Oh, homem insensato!
O que ele possui que de Deus
Não o tenha recebido?
Quem, por mais talentoso que seja
Por maiores aptidões que possua
Por mais dinheiro que consiga juntar
Pode controlar o seu próprio destino
Ou simplesmente garantir a certeza
De acordar vivo no outro dia?

Ora, de onde vem o ar que alimenta seus pulmões
Ou quem criou a atmosfera que o envolve?
Quem criou os dinossauros que morreram
E que apodreceram no subsolo
Para se transformarem em combustíveis fósseis
Que fazem seus carros andarem
Que fazem funcionar suas fábricas
Que produzem os seus bens?

Quem criou a terra, as plantas
E os animais que lhe servem como alimento?
Quem formou todas as riquezas minerais
Todos os elementos químicos
Ou quem dispôs em perfeita harmonia
Todas as leis que regem a natureza
As leis da física, da química, da biologia
As leis da matemática e tantas outras mais?

Quem mantém o sol e a lua exatamente onde estão
E os impede de se aproximar ou se distanciar
Um único grau do nosso planeta
Impedindo que todo ser vivo morra queimado ou congelado?
Quem criou os ciclos das chuvas
E pôs o nível nos oceanos e mares?
Quem criou o solo que faz crescer as hortaliças
E que alimenta o gado, os cavalos
E todos os animais dos quais tal homem depende?
Ou quem criou todos esses animais?

Mas o homem olha para o céu e as estrelas
Olha para a riqueza ao seu redor
Senta-se sobre suas grandes conquistas
E diz a si mesmo:
“O universo inteiro conspira a meu favor”.
E quem criou o universo que o rodeia?
Quem o colocou no universo para existir
Nesse minúsculo planeta chamado Terra?

Assim como o orvalho da manhã é a vida do homem
Seca-se aos primeiros raios do sol
Com a brisa que sopra sobre as árvores
Ou como as inconstantes ondas do oceano
É o homem e todas as suas conquistas.
Aquilo que é sólido como uma rocha hoje
Amanhã pode esvair-se como poeira
Aquilo que traz grade certeza ao seu coração
Amanhã poderá ser a sua loucura.

Diante da vida que não se medra
Ou da morte sutil que nunca se espera
Caem as conquistas desse homem insano
E todos os seus sonhos e os seus planos
Como fruta apodrecendo no pomar
Lançam-se ao chão e delas ninguém jamais falará
E jamais poderão lhe garantir a felicidade
E a satisfação de construir castelos
E conquistar tesouros eternos
Onde a traça e o tempo não podem roer
Ou os ladrões e as circunstancias não podem roubar.

Quisera o homem olhar para o céus
Com os joelhos cravados na terra em adoração
Agradecendo a Deus cada gota de vida
E cada sucesso que sua vida alcance
Reconhecendo nele o autor de tudo que há
De quem vem todo dom perfeito
E de quem procede todas as boas dádivas
Todas as graças que nos trazem alegria
E todas as coisas que nos permitem estar vivos.

Ah, que orações lindas seriam feitas
Dedicando a ele o lugar mais alto no pódio
E esperando dele a força e a capacidade necessárias
Para continuar lutando, vencendo
Para poder todos os dias abrir os olhos e dizer:
“Estou vivo em mais um dia que Deus me deu”.
E aquele será o único dia, a única oportunidade
O momento exato de todas as coisas acontecerem
Sob a benção do criador da vida
Do autor e consumador da nossa fé
Do Deus da nossa salvação.

Amém.